quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um banquinho de madeira ao lado de um cinema, uma poltrona confortável em frente a uma livraria ou um lugar no calçadão da praia sob o céu enevoado e com a infinitude do mar se estendendo no horizonte. Qual seria o melhor lugar para transpor em palavras os sentimentos guardados há sete chaves nos recônditos da alma? Talvez um cantinho reservado em um café aconchegante, inalando o irresistível aroma que se alastra pelo ambiente. Seja qual for, o lugar ideal é aquele que inspira quem escreve. Agora sinto a brisa refrescante que os coqueiros trazem e ouço o mar ressoar em ritmo cadenciado. Tudo é calmo, tudo é cálido. É por isso que ouso adaptar a máxima clássica de "O Mágico de Oz" para o tema em questão:
 Não há lugar melhor do que um refúgio para se inspirar. Simples assim.


domingo, 16 de setembro de 2012


Venha
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha
Que o que vem é perfeição (Legião Urbana)


Se a vida fosse perfeita e não tivéssemos que enfrentar os percalços aos quais ela nos submete, tudo seria muito monótono e a graça dos melhores momentos, reduzida. Como em todos os aspectos da existência humana, é necessário o equilíbrio para que as coisas fluam em plena harmonia. Entretanto, às vezes tudo ao nosso redor parece errado, distópico, nebuloso. Toda cor do nosso mundo, desbotada em um doentio tom de cinza. Nessas horas, o equilíbrio está distante e a única coisa que tem peso, voz e forma para se tangenciar cada vez mais é o sofrimento.

Quando nos deixamos submergir numa tristeza profunda é difícil ter forças para voltar à tona. Nós mesmos passamos a nos enxergar como pessoas tristes, que muito nos diferem daquelas cheias de vitalidade e esperança que éramos antes. A impressão é de que as sombras estão nos tragando, pois preferimos nos isolar no escuro para não transmitirmos a causticante angústia que nos acomete aos ingenuos portadores de alegria que nos cercam. Ingenuos porque não conheceram a dolorosa realidade que se faz presente em nossas vidas.

Eu passei por um período devastador este ano. Meses e meses imersa numa crise que parecia sem saída. E como se toda condição frustrante de pontadas de dor inacabável, noites mal dormidas, problemas gastrointestinais, fadiga exaustiva e dificuldade de concentração não fossem suficientes para aplacar meu sofrimento, não conseguia encontrar ânimo nem ao menos para fazer o que mais amo, como ler e escrever. É horrível não conseguir cumprir simples tarefas do cotidiano, mas não conseguir dar conta daquilo que move o âmago do nosso ser é muito pior. Terrivelmente sufocante.

A melhor parte disso tudo é que a máxima “depois da tempestade sempre vem a bonanza” se tornou mais que verdadeira para mim. Passada a pior de todas as crises, o gosto de tudo aparenta estar mais doce, os sentidos, mais apurados e as cores, mais cheias de vida. E não endureci como muitas pessoas endurecem depois de provar o sabor amargo que o destino às vezes reserva. Pelo contrário, continuo a mesma sonhadora que sempre fui, apenas amadureci minha convicção em valorizar ao máximo cada momento de felicidade e minha confiança na fé em dias melhores. Porque eles chegam. Só não podemos deixar nossos olhos embaçados demais para enxergá-los.

Essa semana estive em uma livraria, o ambiente comercial de que mais gosto entre todos. Ali, folheando diversos livros e absorvendo o agradável aroma que emanam, não percebi o tempo passar e somente depois, já longe, me dei conta de que a palavra “fibromialgia” – que de tão presente em minha vida não me sai da cabeça – não perscrustou minha mente nem por um instante nem demonstrou seus indícios pelo meu corpo enquanto me enveredava no aconchegante universo que brota das páginas lidas e divagava sobre ele.

Não é porque não estamos em condição de fazer algo, que antes era natural que fizéssemos, por determinado período – mesmo que esse período se prolongue indefinidamente –, que perdemos a capacidade de voltar a fazê-lo. Não, a capacidade está bem aqui, dentro de nós, guardadinha para voltar à ativa quando chegar a hora. É intrínseca ao que somos, por isso está tão arraigada. O fato de eu estar escrevendo essas palavras para você, que as lê, não podia ser prova maior.